Num dia frio, pelas ruas da cidade,
Experimentei uma dura realidade.
Um menino veio bem na minha direção,
De repente me puxou pelo dedo da mão.
Pude ver nos seus olhos uma incerteza,
Me questionei o porque daquela tristeza?
- Ei! Me da uma moeda seu dotô?
- Me conta a sua história que eu dou.
- É que a casa onde eu moro é aqui na rua,
- A noite tenho só o carinho dos raios da lua.
- E os seus pais? Porque com você não estão?
- Não os tem mais? Me responda a questão.
- O meu papai morreu na mão de um homem mal,
- Ele até pediu sabe..., mas o vilão deu o tiro fatal.
- A minha mamãe saiu e disse já voltar,
- Até hoje ela não voltou para me buscar.
- Sabe senhor, eu não tenho nenhum irmão,
- Só tenho de companhia a amiga solidão.
- As vezes eu até sinto uma dor forte no peito,
- Esqueço até a fome quando estou desse jeito.
- O Senhor me da uma moeda agora?
- Ai eu prometo que vou embora.
- Sim, eu te dou a tal moeda, então,
- Mas me conta só mais uma porção.
- Eu sempre durmo naquele banco dessa praça,
- Tenho um papelão que de noite me abraça.
- Eu também não tenho comida todo dia,
- As vezes durmo no ronco da barriga vazia.
- La no farol, vou de carro em carro correndo,
- Mas eles fecham o vidro porque ta chovendo.
- No natal eu brinco com as pedrinhas no chão,
- Elas são os brinquedos que nunca me dão.
- Por favor me da a moeda tio!
- Ta tarde e to sentido tanto frio.
Envergonhado, lhe dei a moeda tão esperada,
Ele saiu “contente”, saltitante afora pela estrada.
Talvez sem ter ideia do seu sentimento.
Talvez sem ter ideia do meu lamento.
Pequenininho, na vida já tão sofrido,
Abandonado, pelo mundo esquecido.
Sem saber que levou muito mais na sua mão,
Levou no caminho consigo o meu coração.
Me sentei no banco que ele dormia,
Chorei feito uma criança naquele dia.
Quando me dei conta que a muito não chorava,
Que da ultima vez que o fiz, já não me lembrava.
Foi quando percebi que o frio daquele dia...
Que aquele garotinho que me disse que sentia.
Não vinha do tempo ou sua estação,
Mas vinha do homem e seu coração.