Palavra Perene

domingo, 25 de março de 2012

SAPATO NOVO

Os sapatos se confundiam no tatear dos passos arrastados e cambaleantes, contra sua própria vontade em serem cúmplices da vergonha do seu senhor.
Molhados da lama suja que a chuva misturou, onde foram os primeiros a beijar na queda ao se enroscarem na dança das pernas perdidas sem ritmo, sem musica, sem direção, sem esperança.
Com partes encobertas de uma sujeira seca de há tempos caída dos lábios que também obrigados, devolveram numa condição disforme o que se guardou em abundancia no interior daquele que nunca teve controle.

Eram apenas alguns goles no final de semana, que depois já eram também durante a semana e que da condição de senhor passou a escravo do que um dia chamou apenas de diversão para esparecer.
Seu prazer gerava o seu desprazer quando se via na situação sã, e para suportar buscava mais prazer e muito mais prazer e a bola de neve crescia.
De bar em bar, de tropeço em tropeço, em qualquer tempo ou condição, era o único caminho pós-trabalho que aquele homem cego enxergava.
Ralos, batidos e abatidos do seu trabalho de chofer a carregar o peso morto que ainda insistia na vida, se é que assim se podia chamar a condição daquele velho homem.
Gastava o salário do mês com todos os seus “amigos” de copo e não concedia a aposentadoria ao esforçado par de sapatos.
Já sem vida e sem cor, cansados da rotina do dia-dia que dia-dia se repetia no mesmo caminho de idas e vindas sem chegar a lugar algum.

Cedo.
Tacados no pé, sem fé, sem respeito.

Noite,
Tacados no chão, sem coração, de qualquer jeito.

Mas uma alegria aliviava o judiado coração daqueles objetos que um dia sonharam numa vitrine de loja fina em conhecer aquele que os levaria para passear pela vila, pela cidade, pelo mundo.
Essa felicidade voltava quando um par de pequeninas mãos os sustentavam com todo carinho no fim da noite e os levava para o renovo tão esperado, enquanto o seu dono já se encontrava jogado meio torto com a perna pendurada para fora da cama de consciência desligada, se é que a tinha ligada durante o dia.
O pano macio imbuído em água morna tirava as manchas do dia e sorriam os velhos sapatos no alivio da gentileza.

O creme escuro corria preciso por entre as curvas marcadas da surra do tempo e preenchia toda a superfície proposta para depois deixar a suavidade da flanela surfar nas ondas deslizantes do brilho.
Recostados ao pé da cama, lindos, repousavam contentes e renovados contemplando dois pezinhos descalços, por não terem calçados, que se distanciavam lentamente em suas pontas para não ascender à fúria daquele que emitia um som estrondeante e  se debatia como um pugilista lutando no ringue da sua cama com seu sono pesado.
De manhã a mesma mesmice se faria acontecer até anoitecer, era sempre a mesma e velha historia, qual comida sem sabor.
Levantava assustado, correndo, atrasado e pisava os companheiros de jugo sem se quer se atentar para a sua bela aparência, pois maior era a preocupação e aflição em agarrar a primeira garrafa.
Sem também despedir um beijo, um abraço, um simples carinho ou um olhar para aquele que lustrou e deixou tão belos os sapatos do seu querido papai, que por mais rude, estúpido, ignorante, viciado, irresponsável, e ausente, ainda assim e acima de tudo, era o seu papai amado.
A única forma de aproximação que um filho encontrara para estar próximo do seu pai, era através de um velho par de sapatos.

O tempo correu e aquelas pequenas mãos ficaram cada vez mais habilidosas que começaram a lustrar sapatos nas praças durante o dia para a família ter o que comer.
Todos aqueles anos se passaram e em muitos deles, nos finais de noite, foram as lagrimas que limparam aqueles velhos e únicos fantasiosos amigos, os sapatos.
Então aquelas mãos cresceram e adultas alcançaram outros horizontes, e já não estavam mais manchadas e sujas de graxa, mas empunhavam uma bela caneta de um respeitado homem trabalhador, empregado numa renomada empresa, que assinava um cheque de um presente no seu primeiro mês de serviço, do seu primeiro ordenado.
Uma bela caixa embrulhada num papel brilhante enfeitada num bonito laço.
No velho pai, as rugas, as marcas no rosto, do trabalho, do desperdício de tempo encerrados nos copos dos bares, daquele homem que nunca sentiu nada até aquele dia quando pegou aquele pacote repousado no leito de seu quarto que abriu cuidadosamente.
Quando tirou a tampa da caixa, a garganta engoliu seco, suas mãos ficaram tremulas e a cabeça baixou parecendo pesar-lhe a consciência.
Segurou o choro enquanto pode, mas não pode, não suportou e desabou.
O muro do coração caiu e as lagrimas desceram em abundancia qual comporta rompida  ao ler uma simples frase dum cartão colocado dentro da caixa com um lindo par de sapatos:
-          Pai, eu te amo!

A compreensão lhe fugia a mente, por apesar de ter abandonado seu filho, morando na mesma casa e comendo na mesma mesa, como podia o amor permanecer?
Aquele homem escondera por todo aquele tempo que sabia o que fazia o seu pequenino enquanto ele dormia.
De como cuidara do seu papai da forma que podia, da forma que encontrara.
Se escondia atrás da própria vergonha e fingia que não via.

Calçou os novos sapatos, levantou o corpo e os olhos, decidiu ir além do seu orgulho.
A porta do quarto fechou atrás si e a sala testemunhou o perdão, o amor, o abraço de um pai que sempre amou o seu filho.
Foram muitos e muitos anos, mas um dia aquele menininho se fez homem e conseguiu quebrar o coração mais duro que já se viu e ele nunca mais viu o seu pai endurecer, nunca mais.
O amor é a única arma que não é uma arma, pois não mata e sim devolve a vida.

Aquele menino conheceu o amor, e o amor se chama Jesus.
Ele apresentou ao seu próprio pai mais que um simples amor de filho, apresentou Jesus.

Por: R. Rodrigues

O ALERTA


Ele estava na sala, em pé, bem no centro e então, sentiu medo.
O ambiente ficou meio estranho de repente, algo estava errado 
naquele lugar, naquela casa.
Como num estalar de dedos ouviu um ruído, sentiu uma presença, 
mas como? Se estava só?
Percebeu algo que passou rápido como se fosse um pássaro 
silencioso que sobrevoou.
Ele se virou para tentar avistar, mas cada vez que vê virava parecia 
que aquilo continuava atrás dele.
Quando finalmente conseguiu ver o vulto, uma sombra grande e 
negra de asas que sumiu rápido da mesma forma que apareceu.
Sozinho naquela casa, na sua própria casa, travou no pavor, estático 
no meio da sala.
Com os olhos estalados no desconhecido, lentamente começou a se 
virar, olhou tudo a volta bem devagar, como quem espera encontrar algo
 “que não espera”, talvez algo de um outro mundo, mas nada achou.
Com as pernas tremulas começou a caminhar, passo ante passo pela casa,
 cômodo por cômodo, de canto em canto e nada.
Voltou para a sala e novamente começou a lhe subir um pavor enorme de 
arrepiar até os ossos, um medo inimaginável.
Agora não eram somente as pernas, seu corpo inteiro tremia diante
 do sobrenatural.
Olhou as chaves na mesa, olhou a porta da sala e sentiu uma enorme 
vontade de sair, de correr, de fugir, mas não conseguiu se mover.
Paralisado pensou consigo que ali era a sua casa e não era ele quem 
tinha que sair e resolveu lutar contra aquele mal.
No seu espírito clamou  a Deus, começou a dominar-se, obrigou seu corpo 
a se controlar, sua alma a lhe obedecer, sua mente a raciocinar e todos 
os sentidos voltaram.
Estava agora firme no meio da sala, parado, mas agora porque queria.
Decidido pegou as chaves e se dirigiu até a porta, mas não era para fugir.
 Abriu a porta e retornou para o centro da sala.
Deu ali um passo de fé.
Ao mesmo tempo em que levantava a sua mão, falou forte no nome de 
Jesus e quando sua mão já estava bem alta sentiu tocar em algo ou alguém.
Levantou os olhos e viu que alguma coisa enorme e escura flutuava
recostada no teto da sala, o medo quis apontar novamente, mas ficou
firme no seu intento de vitória.
Então se ouviu um grito horrível de pavor e o vulto saiu veloz em direção 
a porta e sumiu.

Num súbito se levantou, abriu os olhos ofegante e assustado, 
suava inteiro sentado na cama olhando a volta do quarto até que parou
 no relógio que marcava 02h30 da manha.
Jogou a coberta de lado, deixou a cama e foi até a sala, até o centro da sala.
As chaves estavam em cima da mesa como havia deixado, a porta trancada,
tudo estava calmo  e tranqüilo.
Suspirou, foi apenas um sonho, um pesadelo.
Então mais calmo, entendendo tudo, se virou em direção ao quarto para 
terminar o seu sono interrompido.
De repente. Sentiu medo.

Por: R. Rodrigues

sexta-feira, 16 de março de 2012

ONDE ESTA O AMOR?


Onde estava a igreja do Senhor?
Onde eu estava?
Desespero na sala do horror.
De repente o silêncio em gritos reinava.
Tudo se fez vermelho nas balas do terror.

Homem.
Quem é esse?
De onde veio?
Pra onde foi?

Crianças.
Quem são essas?
De onde viram?
Para onde foram?

O foco no mundo mudou.
Infante juventude ferida.
"Meu Deus". Frase que lembrou.
Atropelos em busca da vida.

O anuncio da verdade na carta da morte.
"Ele vai voltar".
Até o nosso inimigo fala forte.
Zomba do altar.

Pra família que sorria.
O furto da alegria
Passou.
A dor ficou.
E vai ficar.
Pra chorar.

Diante da nossa indiferença,
Cabe o perdão de Deus,
Pra ainda ter esperança,
De salvar pelo menos os seus.

Onde esta o amor?

Onde estão os que oram?
Onde estão?
Perdão Senhor.
Perdão.

Por: R. Rodrigues

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O massacre de Realengo refere-se ao assassinato em massa ocorrido em 7 de abril de 2011, por volta das 8h30min da manhã na Escola Municipal Tasso da Silveira, localizada no bairro de Realengo, na zona norte da cidade do Rio de Janeiro. Um rapaz de 23 anos, invadiu a escola armado com dois revólveres e começou a disparar contra os alunos presentes, matando doze deles, com idade entre 12 e 14 anos. Quando interceptado por policiais, cometeu suicídio.

Realengo (significado): Tudo o que pertencia ao rei. 
(Que rei? O rei desse mundo?)

quinta-feira, 8 de março de 2012

A VERDADEIRA INTENÇÃO


"Preguem o evangelho tendo em 
vista unicamente a glória de Deus, 
ou então, 
segurem suas línguas."

por: Charles Haddon Spurgeon


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“Preparem-se para se tornarem 
cada vez mais fracos; 
preparem-se para mergulhar a níveis 
cada vez mais baixos de auto-estima; 
preparem-se para a auto-aniquilação 
e orem para que Deus 
apresse este processo”.


por: Charles Haddon Spurgeon